sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A Arte de Ouvir


Certa vez fiquei responsável de fazer uma dinâmica com os colegas de trabalho. Na época achei apropriado a leitura de um texto reservando um espaço para uma breve bate-papo, bem informal. beleza, aconteceu como planejado, porém durante a leitura do texto me surpreendi quando vi algumas pessoas chorando... caramba - pensei eu - o texto mexeu com as pessoas, mexeu comigo também à primeira vez que o li. Na conclusão da vivência com os colegas pedi para eles fecharem os olhos e toquei no clarinete "Meditação" do Tom Jobim, que recomendo ouvirem depois da leitura. Então como agora estamos concluindo um ciclo e começando outro, nada melhor que uma reflexão, uma meditação. Então ouçam Rubem Alves:


A Arte de Ouvir

De todos os sentidos, o mais importante para a aprendizagem do amor, do viver juntos e da cidadania é a audição. Disse o escritor sagrado: “No princípio era o Verbo”. Eu acrescento: “Antes do Verbo era o silêncio.” É do silêncio que nasce o ouvir. Só posso ouvir a palavra se meus ruídos interiores forem silenciados. Só posso ouvir a verdade do outro se eu parar de tagarelar. Quem fala muito não ouve. Sabem disso os poetas, esses seres de fala mínima. Eles falam, sim. Para ouvir as vozes do silêncio. Veja esse poema de Fernando Pessoa, dirigido a um poeta: “Cessa o teu canto! Cessa, que, enquanto o ouvi, ouvia uma outra voz como que vindo nos interstícios do brando encanto com que o teu canto vinha até nós. Ouvi-te e ouvia-a no mesmo tempo e diferentes, juntas a cantar. E a melodia que não havia se agora a lembro, faz-me chorar...” A magia do poema não está nas palavras do poeta. Está nos interstícios silenciosos que há entre as suas palavras. É nesse silêncio que se ouve a melodia que não havia. Aí a magia acontece: a melodia me faz chorar.

Não nos sentimos em casa no silêncio. Quando a conversa para por não haver o que dizer tratamos logo de falar qualquer coisa, para por um fim no silêncio. Vez por outra tenho vontade de escrever um ensaio sobre a psicologia dos elevadores. Ali estamos, nós dois, fechados naquele cubículo. Um diante do outro. Olhamos nos olhos um do outro? Ou olhamos para o chão? Nada temos a falar. Esse silêncio, é como se fosse uma ofensa. Aí falamos sobre o tempo. Mas nós dois bem sabemos que se trata de uma farsa para encher o tempo até que o elevador pare.

Os orientais entendem melhor do que nós. Se não me engano o nome do filme é “Aconteceu em Tóquio”. Duas velhinhas se visitavam. Por horas ficavam juntas, sem dizer uma única palavra. Nada diziam porque no seu silêncio morava um mundo. Faziam silêncio não por não ter nada a dizer, mas porque o que tinham a dizer não cabia em palavras. A filosofia ocidental é obcecada pela questão do Ser. A filosofia oriental, pela questão do Vazio, do Nada. É no Vazio da jarra que se colocam flores.

O aprendizado do ouvir não se encontra em nossos currículos. A prática educativa tradicional se inicia com a palavra do professor. A menininha, Andréa, voltava do seu primeiro dia na creche. “Como é a professora?”, sua mãe lhe perguntou. Ao que ela respondeu: “Ela grita...” Não bastava que a professora falasse. Ela gritava. Não me lembro de que minha primeira professora, Da. Clotilde, tivesse jamais gritado. Mas me lembro dos gritos esganiçados que vinham da sala ao lado. Um único grito enche o espaço de medo. Na escola a violência começa com estupros verbais.

Milan Kundera conta a estória de Tamina, uma garçonete. “Todo mundo gosta de Tamina. Porque ela sabe ouvir o que lhe contam. Mas será que ela ouve mesmo? Não sei... O que conta é que ela não interrompe a fala. Vocês sabem o que acontece quando duas pessoas falam. Uma fala e outra lhe corta a palavra: ‘é exatamente como eu, eu...’ e começa a falar de si até que a primeira consiga por sua vez cortar: ‘é exatamente como eu, eu...’Essa frase ‘é exatamente como eu...’ parece ser uma maneira de continuar a reflexão do outro, mas é um engodo. É uma revolta brutal contra uma violência brutal: um esforço para libertar o nosso ouvido da escravidão e ocupar à força o ouvido do adversário. Pois toda a vida do homem entre os seus semelhantes nada mais é do que um combate para se apossar do ouvido do outro...”

Será que era isso que acontecia na escola tradicional? O professor se apossando do ouvido do aluno ( pois não é essa a sua missão?), penetrando-o com a sua fala fálica e estuprando-o com a força da autoridade e a ameaça de castigos, sem se dar conta de que no ouvido silencioso do aluno há uma melodia que se toca. Talvez seja essa a razão porque há tantos cursos de oratória, procurados por políticos e executivos, mas não haja cursos de escutarória. Todo mundo quer falar. Ninguém quer ouvir.

Todo mundo quer ser escutado. (Como não há quem os escute, os adultos procuram um psicanalista, profissional pago do escutar.) Toda criança também quer ser escutada. Encontrei, na revista pedagógica italiana “Cem Mondialità” a sugestão de que, antes de se iniciarem as atividades de ensino e aprendizagem, os professores se dedicassem por semanas, talvez meses, a simplesmente ouvir as crianças. No silêncio das crianças há um programa de vida: sonhos. É dos sonhos que nasce a inteligência. A inteligência é a ferramenta que o corpo usa para transformar os seus sonhos em realidade. É preciso escutar as crianças para que a sua inteligência desabroche.

Sugiro então aos professores que, ao lado da sua justa preocupação com o falar claro, tenham também uma justa preocupação com o escutar claro. Amamos não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A escuta bonita é um bom colo para uma criança se assentar...

Rubem Alves


Meditem e comentem...

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Dica de navegação: Guiart

Amigos estou inaugurando mais um canal, o "dica de navegação" que é bem simples: divulgar espaços na internet que são muito bons. Por vezes nos faltam opções de navegação e pá, nos deparamos com sites e blogs muito legais. Começo minha jornada com este canal indicando um site que considero além de utilidade pública, uma idéia genial: O Guiart, um guia de programação cultural de Belém. Visitando o site, percebemos quão é movimentada nossa cidade, quão movimentado é o site que disponibiliza também a agenda de outras cidades, além de editais de cultura; e uma das coisas mais interessantes do site, talvez seu maior diferencial: poder se cadastrar de forma simples e receber por e-mail a programação bem detalhada e com várias opção de lazer, diversão e arte, enfim, melhor do que falar do Guiart é visitar e conhecer o Guiart, clicando aqui.

Como aqui minha intenção é sempre interagir com vocês que sempre aparecem por aqui, divulguem também suas dicas de navegação, mandando um comentário ou por contato que divulgo. Também se quiserem sugerir mais canais... o espaço é nosso.

Guiart é nosso parceiro, se você quiser também conhecer nossa política de parceria clique aqui.

domingo, 31 de outubro de 2010

Hora de respirar

Chega de esquisitice! Durante o processo eletivo de mais deputados, mais senadores, governador e presidente, cansamos. cansamos das pesquisas; da mídia em cima; cansamos da falta de propostas para a educação; cansamos das acusações excessivas; cansamos.

Que bom que hoje acaba mesmo, só daqui à dois anos. Que bom. Agora é hora de fazermos uma profunda reflexão. Eu faço a minha: se fosse Marina Silva contra Serra ou Dilma, as discussões seriam outras. Francamente, candidatos, francamente, tenham um pouco mais de respeito conosco!

Nós raciocinamos, o Brasil começa a pensar melhor nas suas escolhas.

Aproveitemos, é hora de respirar!


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Curso/Prêmio Aprendizagem Baseada em Projetos

Amigos estou compartilhando uma dica legal:
Professor, você já pensou na oportunidade de compartilhar aquele Projeto que você criou e ainda ganhar um notebook?
Pois então saiba que esta oportunidade chegou.

A Intel está lançando uma nova série de cursos na web para auxiliar professores a desenvolver melhor a aprendizagem dos seus alunos com o auxílio de projetos tecnologias. O primeiro curso desta série de cursos é o “Aprendizagem Baseada em Projetos”. O curso tem carga horária de 40hs para os educadores que realizarem o curso e elaborarem o Plano de Ação proposto, que precisa ser publicado ao final do curso.

Neste curso é possível explorar características e benefícios da Aprendizagem por meio de Projetos usando cenários de sala de aula reais. Dentre os assuntos abordados nos módulos destacamos:

Visão geral de projetos,
Concepção de projetos,
Avaliação,
Planejamento de projeto,
Orientação de aprendizagem.
O curso oferece oportunidades de aplicar os conceitos adquiridos em Planos de Ação reais.

O Instituto Paramitas está oferecendo este curso gratuitamente.

MATRICULE-SE agora mesmo!

Saiba quais as VANTAGENS do curso clicando aqui

E aproveite para participar do Fórum de Discussão clicando aqui

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Professor e a Política

Vivemos em um país onde a vontade política é quase zero. Digo quase porque ainda existem políticos sérios que realmente abraçam a vida pública por uma força maior, muitas das vezes maior que o próprio político.
De uns tempos pra cá tenho observado com mais clareza o mundo político e desde o início da campanha eleitoral de 2010 percebo que algumas coisas estão mudando. Hoje como é um dia de reflexão para toda classe docente, resolvi escrever um pouco, meio de improviso, da relação da política para a educação.
Nas eleições passadas a candidatura de Cristovão Buarque sinalizava a educação como carro-chefe de sua campanha. Neste ano Marina Silva também sinalizou com mais prudência o debate político em torno das políticas públicas, além de enfatizar o Meio Ambiente e mais uma vez a educação também de forma mais veemente e também a cultura. Muitos de nós votamos em Marina como símbolo de que Dilma e Serra representam algo que começamos a nos cansar. Lembro-me com nitidez que na minha infância, uma professora de Alfabetização, fazia campanha pró-Lula para um monte de crianças. Ou seja, Lula tentou por quatro vezes até conseguir o que queria. Concordo com muitos que dizem que é o melhor presidente de todos os tempos, mas também começo a cansar-me do Lulismo.
A idéia de continuidade exagerada, me cansa, mas José Serra também não representa nada, para mim. Penso que é importante Marina e outros como Cristovão Buarque continuarem tentando, está nascendo uma nova visão de política, temos mais acesso às informações, temos ferramentas melhores para acompanhar e cobrar nossos parlamentares. Temos a Ficha Limpa, que é muito importante. Aqui no Pará conseguimos não eleger Jader Barbalho e Paulo Rocha, a não ser que els consigam no Supremo o que eu acho difícil. Aliás, pudemos ver que no Supremo infelizmente temos algumas peças que estão vendendo voto especialmente nestas leis mais polêmicas, basta assistirmos a TV Justiça para perceber, mesmo que intuitivamente, sem provas, sem nada que há algo de errado ali.
Enfim amigos, penso que tudo isto e mais alguma coisa tem fortes ligações com a Educação e uma felicidade é já podemos vislumbrar com um cenário político melhor, num futuro não muito distante, dias melhores virão.
Feliz dia dos Professores. Salve 15 de Outubro.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

terça-feira, 17 de agosto de 2010

4º Edital Votorantim de Seleção Pública de Projetos de Democratização Cultural

Em parceria com o blog Acesso, o Instituto Votorantim realiza o seu processo de seleção de projetos culturais para patrocínio em 2011.

A 4ª edição do edital de seleção pública terá início no dia 3 de agosto de 2010 e investirá R$ 3 milhões em projetos de todas as áreas culturais – artes visuais, artes cênicas, cinema e vídeo, literatura, música e patrimônio – desde que estejam comprometidos em ampliar e qualificar o acesso de jovens, entre 15 e 29 anos, a bens culturais.

Poderão se inscrever artistas, grupos, produtores e instituições de todas as regiões do país que tenham projetos de até R$ 500 mil com atividades previstas para serem realizadas de janeiro a dezembro de 2011.

A novidade dessa seleção é a categoria especial “Acessibilidade”, que reservará até R$ 1 milhão para projetos com estratégias de inclusão e formação cultural para jovens com deficiência ou mobilidade reduzida. Leia no regulamento do Edital como participar dessa categoria.

Os projetos inscritos serão analisados por uma comissão técnica formada por especialistas da área cultural, que avaliarão o impacto e o benefício do projeto ao público jovem. No processo seletivo serão considerados aspectos como diversidade de porte de projetos e regiões beneficiadas, qualificação dos conteúdos, planejamento, potencial de visibilidade e outros critérios detalhados no regulamento. A decisão final fica a cargo do Conselho do Instituto Votorantim, que examinarão os projetos pré-selecionados pelos especialistas.

A inscrição de projetos é gratuita e poderá ser realizada de 3 de agosto a 1 7 de setembro de 2010,até às 18h00.

Os projetos aprovados precisarão apresentar o número de registro no Pronac (Programa Nacional de Apoio à Cultura) e os dados bancários da conta depósito (aberta pelo Ministério da Cultura) até o dia 16 de dezembro.

O resultado do processo de seleção será anunciado até o dia 11 de novembro deste ano, pelo blog Acesso e pelo site do Instituto Votorantim.

Fonte: Blog Acesso

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Estudante versus Televisão


Hoje, 11 de agosto, assisti o Jornal Hoje, da rede globo e uma coisa me chamou atenção: não vi em nem um momento uma matéria sobre o dia do Estudante, mas lembro-me perfeitamente sobre a matéria sobre o dia da televisão. Realmente o nosso país é o país da piada pronta, como diz o Zé Simão. É no mínimo curioso. Ou será que tem mais coisas por trás disso? A única lógica para tanto, é que em algumas regiões do nosso país o dia do estudante seja comemorado no dia 24 de março. Mas, enfim, coisas do Brasil.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Site para crianças com Deficiência Auditiva

Amigos, em uma lista de professores blogueiros que participo a colega Jenny compartilhou uma dica bem legal: a de um espaço na internet criado especialmente para crianças com deficiência auditiva, os nossos queridos surdos. No site existem jogos onde a criança, sendo surda ou não, desenvolve o vocabulário, e auxilia na aprendizagem do português escrito: verbos, substantivos, pronomes, adjetivos, em duas línguas: LIBRAS e Português. Clicando nas figuras e brincando o usuário aprende o nome das coisas.
Ainda existe também a opção de pintar, com ferramentas bem legais. Vale um click, Aqui.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Ensino de Artes será obrigatório na educação básica

Objetivo é 'promover o desenvolvimento cultural dos alunos'; lei foi publicada na edição desta quarta-feira do DOU 14 de julho de 2010 11h 38

Lula da Silva sancionou lei que obriga o ensino de Artes em todos os níveis da educação básica. A decisão foi publicada na edição desta quarta-feira do Diário Oficial da União.
A Lei 12.287, de 13 de julho de 2010, altera o segundo parágrafo do artigo 26 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

Pela nova redação, os currículos do ensino fundamental e médio devem conter o "ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais". O objetivo, diz o texto, é "promover o desenvolvimento cultural dos alunos".

Lendo na edição eletrônica do Estadão, vi um comentário do Djalma Lima que reproduzo na íntegra pela coerência no observar:

"Mais uma emenda à LDB, sem prever recurso e sem prever estrutura, nem nada.

Creio que isso evidencia que a LDB precisa ser revista!! Nossa lei de base não permitiu que a educação fosse prioridade nesse país. É preciso rever a LDB e a constiuição para colocar educação como prioridade e educar para contruirmos um país, separando o que é conhecimento do assistencialismo que foi impregnado no discurso pedagógico dos últimos anos."

Para ver a matéria, no site do Estadão, clique aqui.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Não há quase nada a dizer. Nosso respeitoso silêncio.

A respeito do músico brasileiro Paulo Moura, prefiro quase nada dizer agora nesta hora.

Apenas dizer que tive o privilégio de vê-lo ao vivo, tocando em Belém e ter batido um papo de 3 minutos, tive a oportunidade de agrdecer por ele ter vindo em nossa cidade e disse que, quando pudesse, que voltasse. Agora agradeço por ele ter vindo e ter passado este tempo (77 anos) conosco. Dizer que ele será imortal em nossas lembranças - alegres lembranças - e dizer que quando der, volte.

Existem coisas inesquecíveis em Paulo Moura: o chapéu, o clarinete transparente BUFFET CRAMPON B12, o negro de olhos azuis, o saxofone também parceiro e especialmente sua gentileza. Que homem gentil. Pra mim é o que fica de mais especial deste homem.

Volte sempre que puder Paulo Moura. Esteja em Paz. Muito grato por tudo. Nosso respeitoso silêncio.

Deixo vocês com Paulo Moura e Yamandú Costa tocando "Remexendo" Radamés Gnatalli.

Para conhecer mais profundamente a obra de Paulo Moura, clique aqui.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Músicas para Viagem

Não importa para onde você vai. Se for pra muito longe ou muito perto, se é indo para o trabalho ou para casa. Se for indo para outra cidade, outro Estado ou Outro país... Não importa se você vai de ônibus, avião ou navio, ou balsa, trem, bicicleta ou a pés. Se você quer viajar e quer uma trilha sonora, eu preparei uma especial para você. É só baixar e curtir. E se você também vai ficar em casa, tenho certeza que ouvindo esta seleção, é inevitável viajar, pois não é redbull, mas te dá asas, asas pra imaginação, asas para viajar. Boa viagem Ao chapéu da viagem



domingo, 4 de julho de 2010

10.000 Visitas!

Grato a todos os leitores e visitantes que contribuiram para esta marca. Este mês de junho tivemos o número de 1.984 e esta média considero muito boa. Mas, sempre estamos querendo melhorar.
Muito Grato, rumo às 20.000 então.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

[Re]Postagem: P. P. Condurú apresenta nova série de desenhos e pinturas

Antes de chegar nesse momento, foram cinco anos “longe” de si próprio, das tintas e traços, numa caçada a 30 anos de arte. Enquanto catalogava as obras, P.P. trabalhou com outras mídias, brincou e criou com outras formas de expressão, como a música, o desenho em três dimensões, a edição de vídeo, o livro, a fotografia, a Internet e suas novas possibilidades e, fissurado por estética e por se comunicar, sentiu vontade de unir tudo aquilo (ZBrush, Encore, Photoshop, Orion, Premiere, In Design...) ao seu “vício visual", como fala da sensação visceral que tem ao bater o olho nas coisas, nas pessoas; a instigação de se sentir possuído por todas as descobertas e a vontade incontrolável de expressar esses sentimentos. Daí, nasceu a mostra “Como entra sai/ Coisa assim, nós na nuca, pirulitos n’água”, que pode ser visitada até 17 de julho na Galeria Elf.

“Desses prazeres, ‘tá surgindo a nova série de desenhos, um desenvolvimento que me leva a pensamentos pessoais sobre Internet, MSN, rapidez, imagens, gratuidade, banalidade, essa fluidez, esse dinamismo do mundo. É uma forma d´eu me comunicar. Então eu escrevo, eu desenho, eu pinto, eu mancho... porque o que eu mais adoro no meu trabalho, desde sempre, é o que não fizeram ainda, o por vir, o estar por fazer, essa perplexidade diante dos acontecimentos, o meu embate técnico de ver uma coisa assim que eu nunca pensei fazer e construir, esteticamente, aquele raciocínio, aquele pensamento, que nem sei o que é, mas imagino que seja isso também. Então, é uma coisa assim... nós na nuca, pirulitos n´água”, conta P.P.

Os desenhos, feitos sobre papel A4 - o tamanho normal de reproduções corriqueiras, acessíveis -, mostram esse encontro espontâneo do artista experiente com o novo; a consciência do desenho com a pesquisa da arte; o interesse por imagens que não dizem muita coisa, mas estão lá na Internet, ninguém sabe pra quê, mas estão lá e interessam ao artista – os “pirulitos n´água”. Pirulitos da banalidade de tudo e que dão “nós na nuca”. Segundo ele, os nós propriamente ditos; os nós das pessoas, “como cavalos nas nucas de outros cavalos”; nós de tensão desse mundo doido, onde encontra inspiração.

E na coincidência com o Dia dos Namorados (a vernissage aconteceu no último dia 12 de junho) pintou a série, “Namoro, teu jeito tamanho” - mais jogo do embate técnico-criativo, com 10 desenhos exclusivos sobre papel artesanal, que não vão parar na parede, mas estarão no cyber espaço, no site da Elf e no blog do artista. É a primeira virtual dele e da galeria, para quem gosta e namora de forma não convencional.

E, por fim, o começo: “Como entra sai...” é a série de telas, trabalhadas em acrílica, frases, palavras, massa, cola e outros materiais com os quais P.P. se sente mais feliz, atiçado e à vontade, futucando o instante primordial da criação, do frio na barriga, do zunido e da coragem de entrar e romper o barulho. A série vai para a parede da Elf, mas num pirulito, quer dizer, numa pequenina mostra de tudo o que ele vem criando sobre tela, só para atiçar nós.
Fonte: Guiart. Conheça mais o Guiart.
Fonte da Fonte: ASCOM/ Elf Galeria

terça-feira, 15 de junho de 2010

Blog de cara nova

Amigos, depois de ver as opções resolvi mudar de design. Já estava um tempo e mudar sempre é bom. Primeiramente escolhi um modelo mais recalcado, simples, mantendo a linha do anterior. Achei muito careta e aí resolvi mudar para este aqui.

Alguma coisas mudaram mesmo, alguns gadgets, estão lá em baixo, como os "seguidores", por exemplo. Além de notícias, espaço para recados, as propagandas.. ou seja, vale a pena ver até o final o blog.
Gostaram?
Espero ter um retorno das pessoas que passam por aqui de quando em vez para opinarem sobre o quepodemos melhorar.

Durante este tempo vou experimentar outras coisas aqui...

sábado, 12 de junho de 2010

[Re]Postagem: Artes em Educação

por Jenny Horta

Amigos, conforme postagem anterior, estou a partir de hoje um novo canal, intitulado "Vale a pena postar de novo" e para estréia (re)posto aqui um artigo que desde que li achei super interessante. O texto é da colega Jenny Horta, que reproduzo na íntegra:
Artes em Educação


Este é um dos meus pintores preferidos: http://www.jan-toorop.com/home/

Considerações sobre o Papel das Artes na Educação

A arte pode representar a realidade vista pelo indivíduo ou ainda a forma como este gostaria de percebê-la. Ao se “fazer artista”, o indivíduo liberta-se das amarras sociais e pode sobretudo criar, num verdadeiro sentido de amplitude e liberdade. Este processo de criação executa um exercício intelectual e aflora a sensibilidade daquele que cria, apurando-lhe o senso crítico, a estética, a capacidade de observação e a auto-análise e articulação entre o objeto e seu imaginário.

As variadas modalidades de expressão artística possuem ainda características singulares de estabelecimento da comunicação com os demais indivíduos.

Portanto, a arte tem a função de desenvolver as potencialidades, contribuindo para a formação da consciência crítica do indivíduo, de sua visão de mundo, seu lugar e seu papel na sociedade, inserido em sua cultura e sentindo-se parte dela. Ao relacionar-se com a arte de forma transdisciplinar, auxilia também na compreensão de conteúdos de outras áreas.

Ao relacionar artes e comunidade, faz-se necessário inicialmente indagar a que comunidade se refere, dada a pluralidade cultural existente, não só na escola, como nos bairros e ruas de nosso imenso país, traduzido na diversidade de nossos relacionamentos diários.

O aspecto de maior relevância é observar que a arte permite a aproximação de indivíduos, mesmo de culturas mais distintas, pois o fazer artístico torna-se humanizador ao recriar manifestações artístico-culturais determinadas.

A arte portanto pode e deve contribuir para o entendimento e atuação diante dos problemas vitais da sociedade e favorecer a tolerância entre as diferenças. Neste contexto, as escolas se inserem, possuindo características diversas e singulares e deve-se buscar nas características individuais, com a participação da comunidade, desenvolver atividades de aprendizagem artística e estética objetivando o inter-relacionamento de indivíduos, mesmo em suas diferenças.

A relação da arte com o processo ensino-aprendizagem deve levar o aluno a situar-se partindo de sua experiência individual e em contrapartida levar a criação grupal em busca de objetivos comuns. Ao organizar essa criação, a escola não pode separar as experiências do cotidiano coletivo e individual e deve apresentar sempre propostas que incluam o universo cultural dos jovens e permitam a ampliação de seu repertório estético e cultural, diante da universalidade da arte.

O respeito pelo próprio trabalho e pelo dos outros, a ato de investigar possibilidades, a paciência para alcançar resultado, para enfrentar as situações adversas que ocorrem no trabalho criador, respeitar as diferenças de habilidades dos colegas, saber argumentar nas discussões, conseguir concentrar-se nos trabalhos são atitudes necessárias para a criação e apreciação artísticas.

É importante que o professor descubra como comunicar-se com os alunos evidenciando a importância dessas atitudes no desenrolar do trabalho.

Vale finalmente ressaltar que os PCN não devem servir como um mero manual técnico, mas como um rico orientador e instrumento de apoio à prática escolar na área de artes, onde o principal é tê-la como atividade produtiva, comunicativa e sobretudo criativa no auxílio da aprendizagem e formação dos educandos.

Bibliografia:

PCN, Parâmetros curriculares nacionais : arte /Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC /SEF, 1998.

FISCHER, E. A necessidade da arte. Rio de Janeiro: Zahar, 1976:12

Jenny dos Santos Horta

Pedagogia – UNIRIO- Cederj

Polo: Niterói matr.: 20081608968

Link para esta postagem original: http://melhorart.blogspot.com/2009/10/artes-em-educacao.html

Para conhecer o novo blog de Jenny Horta: http://aprendizagemdigital.wordpress.com/

sábado, 5 de junho de 2010

Vale a pena postar de novo?

Desde começo do ano, antes mesmo de nosso blog aniversariar, pensei em criar um novo canal, intitulado "Vale a pena postar de novo", onde, como o próprio nome sugere, a ideia é postar novamente, coisas do arquivo do blog que de repente, merecem ir para o topo da fila. É que muitas vezes as postagens antigas ficam desprestigiadas. Além de também criar um espaço de troca, ou seja, [re]postar também, coisas de outros blogs com seus respectivos links e com isso, proporcionar mais visitas a estes blogs. Inclusive outros blogueiros poderiam sugerir coisas para eu repostar aqui.

O canal pode ser chamado também de "RePost", "Repostagem", "Post dE noVo" etc. Ainda quero amadurecer esta ideia antes de colocá-la no ar. Para isso conto com o auxílio dos visitantes,que só aumentam, que bom. Estamos sendo muito visitados, nosso números são realmente animadores especialmente ao número de seguidores que também aumentou. Pena que tais números ainda não são refletidos em números de comentários. Mas tudo bem, sei que isto é com o Tempo.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Prêmio Funarte de Composição Clássica

Aos colegas compositores, divulgo aqui o edital para interessados em inscrever uma composição no Prêmio Funarte de Composição Clássica.
Leia o Edital.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

1 ano de Blog

Amigos neste primeiro ano de atividades, quero agrdecer a todos os seguidores, os que visitam e especialmente aos que comentam, fazendo deste espaço, lugar de Ideias em Arte-Educação. Neste tempo consquitamos até agora 39 seguidores, quase 7000 visitas. Pra mim, é um número bom, se levarmos em conta a proposta do blog, o pouco tempo que tenho para me dedicar, mas penso também que ainda podemos melhorar.
Vamos juntos trocar Ideias em Arte-Educação

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Porque é importante Arte na Escola?

Amigos no dia 1º de maio, dia do trabalhador, comemoramos nosso dia. Aqui no blog Ideias em Arte-Educação, comemoro também aniversário, tendo em vista que, iniciamos esse blog nesta data há um ano atrás. Em comemoração a este aniversário, estou fazendo um concurso cultural com um sorteio de um livro (surpresa).

Para concorrer basta responder a seguinte pergunta: Porque é importante arte na escola?

A melhor resposta analisada por uma comissão (3 pessoas), ganha o livro. Garanto a vocês que é um livro gostoso de ler.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Caixa Cultural


Brasilia, 16 de Abril de 2010

Mais de R$ 33 milhões serão investidos em teatro, dança, artesanato, ocupação dos espaços da CAIXA Cultural e apoio ao patrimônio cultural

A Caixa Econômica Federal anuncia segunda-feira (19), na CAIXA Cultural Rio de Janeiro, o conteúdo de quatro editais de apoio a projetos culturais para 2011. A novidade este ano é a criação do Programa CAIXA de Apoio ao Patrimônio Cultural Brasileiro, em substituição aos programas de Adoção de Entidades Culturais e de Revitalização do Patrimônio Histórico e Cultural Brasileiro. Além do novo edital, serão publicados também o de Ocupação dos Espaços Culturais da CAIXA, o de Apoio ao Artesanato Brasileiro e o de Festivais de Teatro e Dança. Ao todo são R$ 33,1 milhões em investimento cultural.

O evento de lançamento dos Editais 2011 contará com a presença da presidenta da CAIXA, Maria Fernanda Ramos Coelho, e terá apresentação da Escola Nacional de Circo, Jongo da Serrinha e do quarteto As Chicas.

Um dos diferenciais deste ano é que as inscrições de projetos para todos os Programas passam a ser por meio de formulário eletrônico. Até 2009, apenas as inscrições para o Programa de Ocupação dos Espaços da CAIXA Cultural eram feitas por essa ferramenta. Todas as informações necessárias para a inscrição de projetos estarão disponíveis no regulamento de cada programa, no site http://www.caixacultural.com.br/html/index.html Somente as inscrições preenchidas corretamente serão consideradas, não sendo aceitos projetos enviados pelos Correios. As dúvidas relacionadas aos regulamentos deverão ser encaminhadas para a CAIXA exclusivamente por meio do formulário eletrônico na sessão dúvidas.

O Edital de Apoio ao Patrimônio Cultural Brasileiro vai destinar R$ 3 milhões para patrocínio de projetos de preservação, acessibilidade e divulgação do patrimônio cultural nacional em 2011 e 2012. O valor máximo de patrocínio por projeto será de R$ 400 mil. As inscrições vão de 31/05 a 30/07/2010 e o resultado da seleção será divulgado até 29/11/2010.

Já o Programa de Ocupação dos Espaços da CAIXA Cultural investirá R$ 26 milhões na seleção de projetos para ocupação dos espaços localizados em Brasília, Curitiba, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, para formação da pauta no período de janeiro a dezembro de 2011. O valor máximo de patrocínio por projeto será de R$ 300 mil. O período de inscrição irá de 26/04 a 18/06/2010 e a divulgação do resultado da seleção será feita até 29/10/2010. Os projetos deste programa podem ser nas áreas de artes visuais (fotografia, escultura, pintura, gravura, desenho, instalação, objeto, vídeo-instalação, intervenção e novas tecnologias ou performances), artes cênicas (teatro, dança e performance de palco), música, cinema e outros. Além das modalidades espetáculos, exposições, exibições, estão contempladas ainda palestras, encontros, cursos, workshops, oficinas e lançamento de livros.

O Programa CAIXA de Apoio ao Artesanato Brasileiro selecionará projetos a serem realizados ao longo de 2011 que visem ao desenvolvimento de comunidades artesãs e à valorização do artesanato tradicional e da cultura brasileira, contemplando várias etapas do processo produtivo. Em 2011, a CAIXA planeja investir no programa cerca de R$ 600 mil, sendo que o valor máximo de patrocínio por projeto será R$ 50 mil. As inscrições irão de 26/04 a 18/06/2010 e os resultados sairão até 20/08/2010.

Por fim, o Edital de Festivais de Teatro e Dança vai destinar R$ 3,5 milhões para festivais de teatro e dança que acontecerão em todo o território nacional no período de janeiro a dezembro de 2011. O valor máximo de patrocínio por projeto será de R$ 200 mil. As inscrições vão de 26/04 a 18/06/2010 e os resultados saem até 13/08/2010.

Projetos realizados em 2010

Em 2009, a CAIXA lançou os regulamentos para seleção de projetos que estão acontecendo desde o início de 2010. No Programa CAIXA de Apoio a Festivais de Teatro e Dança, dos 315 projetos inscritos, 56 foram selecionados, representando um investimento total de quase R$ 3,5 milhões. No Programa CAIXA de Apoio ao Artesanato Brasileiro, 422 projetos foram inscritos e 22 selecionados, num investimento de mais de R$ 500 mil. O Programa de Ocupação dos Espaços da CAIXA Cultural soma quase R$ 25 milhões em investimentos, destinados aos 275 projetos selecionados, entre os 2.721 inscritos.

A CAIXA investiu, nos últimos cinco anos, mais de 180 milhões na cultura nacional em todos os segmentos artísticos e em todas as regiões do país. A instituição está em diálogo permanente com as raízes culturais brasileiras, fomentando a diversidade e patrocinando a realização de eventos em seus espaços.

Serviço

Coletiva de lançamento dos editais de Apoio ao Patrimônio Cultural Brasileiro, de Ocupação dos Espaços Culturais da CAIXA, de Apoio ao Artesanato Brasileiro e de Festivais de Teatro e Dança
Data: 19 de abril de 2010
Horário: 11h
Local: Caixa Cultural Rio de Janeiro - Avenida Almirante Barroso, 25 sobreloja - Centro
Contato: (21) 2544-4080

Assessoria de Imprensa
Caixa Econômica Federal
(61) 3206-9895 / (61) 3206-9524 / (21) 2202 3086
http://www.caixacultural.com.br/html/index.html


terça-feira, 20 de abril de 2010

Itaú Rumos Culturais 2010 / 2011

Amigos, divulgo os editais do Rumos Itaú Cultural 2010 / 2011.
São quatro categorias (Música, Teatro, Literatura e Pesquisa) divididas em sub categorias.
Vale a pena conhecer, sobretudo pela facilidade, pela diminuição de burocracias. Imagino que eles sabem que não temos muito tempo para cumprir milhões de exigências para concorrer a uma bolsa ou prêmio. Assim, todos ganham.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Ken Robison: "Estamos a educar crianças desprovidas de criatividade"

Recebi este vídeo por e-mail, e, penso que é importante divulgá-lo pela reflexão que nos permite. Ken Robison, de forma humorada, faz-nos pensar sobre a importância da arte nos currículos e de como estamos perdendo esta noção, supervalorizando a academia e esquecendo de visualizar o fututo. Robison, provoca-nos a lembrar de visualizar o futuro, imaginar. Vale assistir.



Comentar também vale.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Brincar de Ópera (proposta de oficina)

Brincar de Ópera é um projeto (proposta de oficina) desenvolvido no ano de 2005, na Fundação Curro Velho como resultado de oficina de capacitção para os professores e instrutores daquela instituição, intitulada "Metodologia: Faz de Conta" ministrada pelas Doutoras em teatro Wlad Lima e Olinda Charone. Ou seja, cada integrante, na conclusão da oficina deveria entregar um projeto como resultado da vivência. Foi bem especial. Então, a quem interessar possa, disponibilizo com maior boa intenção, com certo receio, mas disponibilizo. Afinal a proposta do blog é discutir a arte-educação e também propor atividades, possibilidades.

Vejo que a ópera, de forma mais simplificada, em forma de opereta é viável e, o mais legal: engloba diversas linguagens artísticas.

Espero que gostem (e comentem), foi feito há um tempão, foi na época direcionado para crianças, mas é totalmente adaptável, portanto, onde se lê "crianças" entenda-se também, "alunos". O uso deste projeto deve ser feito com responsabilidade, sempre respeitando a obra, seu autor, como pricípio ético e moral.

Eis o projeto:

PROJETO

Brincar de Ópera

Argentino Campos de Melo Neto


APRESENTAÇÃO

Toda criança (e adulto também) gosta de brincar... e quando a brincadeira se une com o fazer artístico, além de descontraído, o processo de criação é organizado com mais facilidade. Brincando, a criança interage com o grupo e com ela mesma, desenvolvendo a construção de seu olhar, de suas idéias e da sua opinião, pois todo o ser humano também gosta de falar e de ser ouvida.

A proposta da oficina “Brincar de Ópera” é desenvolver junto com as crianças a construção e exibição de uma ópera popular, considerando que a ópera é, antes de tudo, uma maneira bastante interessante de contar uma história.

Interessante porque a história contada numa ópera movimenta várias linguagens artísticas como a representação teatral, a poesia, a música instrumental e o canto, além disso, traz a possibilidade de compartilhar com as crianças todas as etapas da construção e exibição deste espetáculo incluindo a montagem, construção do cenário, figurino dos atores, enfim tudo.

A proposta inicial é estimular as crianças a falarem das suas experiências cotidianas através do desenho, do texto e de outras dinâmicas para chegar a um tema comum e iniciar a construção da história a ser contada.

Depois de construir a história e a maneira como querem contá-la, tanto a escolha dos personagens como todo processo em si fica mais organizado e mais divertido, pois estarão exercitando várias linguagens artísticas fazendo o que mais gostam: brincar.

OBJETIVOS

GERAL: Montar uma ópera infantil com a participação efetiva das crianças, tanto na escolha do tema como na sua montagem.

ESPECÍFICOS: Ensinar de forma lúdica e divertida como se planeja e se monta uma ópera em suas várias etapas.

Possibilitar a integração das linguagens artísticas em torno de um eixo comum.

Formar cidadãos conscientes da própria história e do papel que exercem na sociedade.

Conteúdo programático:

Dinâmicas de grupo
Exercícios de criatividade
Elaboração do tema
Criando personagens
O que é ópera?
Classificação de vozes na ópera
Exercícios vocais e canto
Trilha sonora (Prelúdios e recitativos)
Confecção de figurino
Confecção do cenário
Mostra de resultado



METODOLOGIA

Através de exercícios de criatividade e dinâmicas de grupo, chegaremos a escolha do tema a ser desenvolvido. Através do tema, definiremos os personagens principais e secundários e seus respectivos diálogos. Será feito um estudo mais aprofundado sobre a estrutura de uma ópera e aí então, começaremos a “desenhar” a ópera, escrever sua divisão em atos e cenas.

Estudaremos a classificação de vozes na ópera, bem como faremos exercícios vocais e coro que é prática de cantar em grupo. A partir dos “diálogos cantados”, comporemos os prelúdios, que são as músicas (instrumentais) que abrem tanto a ópera como cada ato.


De acordo com os personagens, definiremos se em determinada cena é preciso o uso de Árias (canções cantadas por um solista); duetos, trios, coros ou recitativos. Os recitativos entremeiam os números de cena, são o recheio necessário à costura dramática da ópera.


Depois de definirmos todos os atos, confeccionaremos os figurinos e o cenário para enfim apresentarmos o resultado.



Equipe:

Direção geral
Direção musical & Preparação vocal
Direção cênica
Guarda-roupista
Iluminador
Cenografia (feito pelos alunos)
Figurinos (feito pelos alunos)
Elenco: alunos

Para saber mais, indico o blog Ópera para principiantes onde aprendemos junto com seu editor. Achei interessante a descrição feita pelo autor do blog:"Um blog sobre opera, onde um principiante na coisa vai falando e comentando as coisas que descobre". Ou seja, ele se coloca no lugar de aprendiz, fundamental para qualquer professor.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Ideia para discutir criatividade em sala de aula

O texto a seguir foi retirado do livro Filosofando, de Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins. Transcrevi e posto quase na íntegra o capítulo Criatividade por acreditar na contribuição do texto para reflexão e até mesmo como proposta de atividade. As possibilidades são muitas.

Nesse estudo acima, para seu famoso quadro Antropofagia (1929, a pintora modernista brasileira Tarsila do Amaral,escolhe elementos que entrarão em sua composição e que, depois, serão retrabalhados em função de seu melhor aproveitamento do ponto de vista da forma pictórica. É sempre interessante poder acompanhar a evolução de uma idéia artística.

Antes da discussão dos conceitos, sugerimos a seguinte atividade para se feita em grupo: tracem, em uma folha de papel, 24 círculos de aproximadamente, cinco centímetros de diâmetro e desenhem livremente em seu interior o que quiserem, durante quinze minutos. Em seguida, façam um levantamento de todos os desenhos e apresentem para o grupo os mais comuns e os mais incomuns. A partir disso, discutam o que é criatividade.


Criatividade

Quando começamos a discutir sobre criatividade, parece sempre que ingressamos num universo um tanto mágico, habitado por deuses, seres que possuem o dom da criatividade, geralmente na área das artes, que é negado ao comum dos mortais. Chamamos de criativas as pessoas que sabem desenhar, tocam algum instrumento, têm alguma habilidade manual “especial”, como pintar camisetas ou ser bom marceneiro; enfim, as que sabem fazer coisas que a maioria das pessoas não sabe.
Será que basta habilidade técnica para ser criativo? Ou será que a criatividade envolve processos mais complexos?

Vamos começar a discutir esse assunto partindo de alguns significados da palavra criar e de seus derivados criador, criatividade e criativo que constam no dicionário:

Criar. V. t. d. 1. Dar existência a; tirar do nada. 2. Dar origem a; gerar, formar. 3. Dar princípio a; produzir, inventar, imaginar, suscitar.
Criador. Adj. 3. Inventivo, fecundo, criativo.
Criatividade. S. f. 1. Qualidade de criativo
Criativo. Adj. Criador

Podemos ver nesses vocábulos que a criatividade pressupõe um sujeito criador, isto é, uma pessoa inventiva que produz e dá existência a algum produto que não existia anteriormente. Vemos também que imaginar é uma forma de inventar ou criar um produto. Portanto, esse produto da atividade criativa de um sujeito não é, necessariamente, um objeto palpável, mas pode ser uma idéia, uma imagem, uma teoria.


Criatividade como capacidade humana

Levando em conta essa discussão, percebemos que a criatividade é uma capacidade humana que não fica nada confinada no território das artes, mas que também é necessária à ciência e à vida em geral. A ciência não poderia progredir se alguns espíritos mais criativos não tivessem percebido relações entre fatos aparentemente desconexos, se não tivessem testado essas suas hipóteses e chegado a novas teorias explicativas dos fenômenos.


A imaginação

O processo de trabalho do cientista aproxima-se do processo de trabalho do artista. Ambos desenvolvem um tipo de comportamento denominado “exploratório”, isto é, dedicam-se a “explorar” as possibilidades, “o que poderia ser”, em vez de se deter no que realmente é. Para isso, necessitam da imaginação. Assim, um dos sentidos de criar é imaginar. Imaginar é a capacidade de ver além do imediato, do que é, de criar possibilidades novas. É responder à pergunta: “se não fosse assim como deveria ser?”.

Se dermos asas à imaginação, se deixarmos de lado o nosso senso ridículo, se abandonarmos as amarras lógicas da realidade, veremos que somos capazes de encontrar muitas respostas para a pergunta. Este é o chamado pensamento divergente, que leva muitas respostas possíveis. É o contrário do pensamento convergente, que leva a uma única resposta, considerada certa. Por exemplo, à pergunta “”Quem descobriu o Brasil, só há uma resposta certa: Pedro Álvares Cabral. Para a pergunta “Se os portugueses não tivessem descoberto o Brasil, como estaríamos hoje?”, há inúmeras respostas possíveis. A primeira envolve memória; a segunda, imaginação.

Tanto o artista quanto o cientista têm de ser suficientemente flexíveis para sair do seguro, do conhecido, do imediato, e assumir os riscos ao propor o novo, o possível.

A inspiração


Nesse contexto, qual seria o lugar da tão falada inspiração? Na verdade, a inspiração é resultado de um processo de fusão de idéias efetuado no nosso subconsciente. Diante de um problema, de uma preocupação ou ainda de uma situação, obtidas as informações fundamentais acerca do assunto, o nosso subconsciente passa a lidar com esses dados, fazendo elementos. É como tentar montar um quebra-cabeças: experimentemos ora uma peça, ora outra, até acharmos a adequada. É o momento em que a imaginação é ativada para propor todas as possibilidades, por mais inverossímeis que sejam. Desse jogo subconsciente surgirão em nossa consciência sínteses e novas configurações dos dados sobre as quais trabalhará nosso intelecto, pesando-as, julgando-as, adequando-as ao problema ou à situação. Ao surgimento dessas sínteses em nossa consciência damos o nome de inspiração. Tanto o artista quanto o cientista trabalham intelectualmente a inspiração. O artista tem de decidir entre materiais, técnicas e estilos para a produção da sua obra. O cientista tem de elaborar e testar as suas hipóteses para chegar a uma teoria ou produto novos.

Vimos no início da postagem o projeto deste quadro (Antropofagia), antes do pictórico colorido impresso de forma magistral por Tarsila do Amaral

Podemos a partir da discussão com os alunos, pedir que desenvolvam com suas palavras, as seguintes questões:

1. Qual o papel da imaginação no ato de criar?
2. O que é imaginação?
3. O que é inspiração?
4. No texto, identifique semelhanças entre o artista e o cientista.


Vamos criar!

E comentar também...

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ver o som, ouvir imagens: considerações sobre conceitos de paisagens sonoras

A paisagem sonora mundial é uma composição indeterminada, sobre a qual não temos controle, ou seremos nós, os seus compositores ou executantes, encarregados de dar-lhe forma e beleza?
Murray Schafer

Minha intenção aqui é concluir melhor não só o termo, mas o que move e como funciona uma paisagem sonora de um lugar. Neste sentido continuarei a trabalhar não só com o “inventor” do termo e do estudo Murray Schafer, mas também com alguns outros autores, inclusive brasileiros que também trataram do assunto, que de certo modo ainda é novo, ou agora está de certa forma, na vitrine das pesquisas em música, sendo assim, necessário um breve histórico.

No final da década de 60, pesquisadores da Simon Fraser University no Canadá, liderados por Murray Schafer começaram as primeiras pesquisas de paisagens sonoras e ecologia sonora formando assim o World Soundscape Project (WSP), tendo como principal finalidade estudar o meio ambiente sonoro.

Grupo WSP - M. Schafer, Jean Reed, Bruce Davis, Peter Huse, Howard Broomfield http://www.nicis.unicamp.br/nicsnews/002/reportagem.php)


Conhecido como um “filósofo musical”, John Cage, já fazia experiências sonoras na década de 50, provocando os ouvintes a escutar o silêncio, como na obra 3’:43’’, sentindo os ruídos espontâneos nos ambientes pois diz que “Música é sons, sons à nossa volta, quer estejamos dentro ou fora de salas de concerto”. Os compositores à época interessaram-se em criar a partir do intervencionismo da rua, interessam-se pela polifonia urbana, pelos sons da cidade em suas obras. É possível estabelecer através Schafer, uma reflexão ainda mais profunda quanto “aos sons” a qual Cage se refere e que como estes “sons” tornaram-se possibilidades musicais ao longo do tempo:

Definir música meramente como “sons” teria sido impensável há poucos anos atrás, mas hoje são as definições mais restritas que estão se revelando inaceitáveis. Pouco a pouco, no decorrer do século XX, todas as definições convencionais de música vêm sendo desacreditadas pelas abundantes atividades dos próprios músicos. (SCHAFER, 1991: 120)

Na verdade, é inegável que Schafer é o principal pesquisador das paisagens sonoras do mundo, apontando-nos caminhos para entendermos as sonoridades ao nosso redor: “O que o analista da paisagem sonora precisa fazer, em primeiro lugar, é descobrir os seus aspectos significativos, aqueles sons que são importantes por causa da sua individualidade, quantidade ou preponderância” (2001, p. 25).


Grupo WSP na Simon Fraser University, em 1973
http://www.nicis.unicamp.br/nicsnews/002/reportagem.php)

O pesquisador Murray Schafer se dedicou a estudar as paisagens sonoras para a composição musical e se tornou um crítico da poluição sonora da sociedade industrializada. Hoje ele vive no campo em Ontario. O remanescente do WSP que continua na Simon Fraser University é Barry Truax. Ele faz pesquisas sobre comunicação acústica e composição eletroacústica. Truax é especialista em síntese de música computacional.

Com os novos meios de comunicação, da Internet, da eletrônica e o desenvolvimento da tecnologia dos computadores, existe uma nova comunidade de músicos, cientistas e engenheiros que estão trabalhando com novos conceitos de ambientes sonoros. O campo da ecologia sonora também atinge vários setores, multidisciplinarmente, com estudos nas áreas de ciências, geografia, história, tecnologia, entre outras. "A idéia central da ecologia sonora pode trazer benefícios a uma sociedade sob o impacto da tecnologia", afirma Truax.

Entre os brasileiros que se propuseram a estudar as paisagens sonoras utilizando as obras de Schafer e, tendo em vista que a tradução do livro “O Ouvido Pensante” feita brilhantemente por Marisa Trench Fonterrada, só aconteceu em 1991, o que evidencia que os estudos de paisagens sonoras no Brasil ainda são recentes. Daí também a explicação do porquê de poucos pesquisadores brasileiros terem se dedicado aos estudos de paisagem sonora e ecologia sonora. Destaco os que considero mais relevantes até o momento: O pesquisador André Luiz Gonçalves de Oliveira, que em sua tese de mestrado na Unesp, dedicou vários capítulos para as análises sobre ciência da ecologia acústica; Em outra tese de mestrado, na PUC de São Paulo, a pesquisadora Fátima Carneiro dos Santos analisa os sons da rua e as suas diferentes possibilidades de percepções, através de gravação feitas em centros urbanos.
André Oliveira propõe “entender o ouvido como parte de um sistema perceptual faz toda a diferença para o estudo da percepção” entendendo ainda que “estudo da percepção visa desenvolver novas propostas poéticas que privilegiem o papel da percepção na ação composicional.”

Este conceito do sistema de percepção, segundo Oliveira, é diferente da noção de órgão sensorial que recebe passivamente as informações para serem codificadas, mas sim como um resultado de detecção, seleção e identificação das mensagens recebidas do meio ambiente. O trabalho de André Luiz Gonçalves de Oliveira (UNOESTE) e também Rael Bertarelli Gimenes Toffolo (UEM) no que tange as relações dos aspectos da abordagem ecológica dos padrões sonoros, sé de fundamental importância para minha pesquisa, pois apontam caminhos seguros de reflexão quanto à aplicação destes aspectos na composição musical, no desenvolvimento de suas técnicas e procedimentos.

Já no trabalho de Fátima Carneiro dos Santos, a autora se propõe conhecer a “música urbana”. Sua dissertação em comunicação e Semiótica na PUC de São Paulo foi publicada no livro “Por uma escuta nômade: A música dos sons da rua” no qual, faz uma análise sobre o som gravado em três centros urbanos, que está em um cd que acompanha o livro. A primeira gravação foi feita na Avenida Paulista em São Paulo, a segunda no centro de Londrina no Paraná e a última na praça central da cidade de Patos, em Minas Gerais.

Considero também o trabalho de Fátima importante para o desenvolvimento de minha pesquisa, no sentido de que a autora apresenta exercícios de escutas, filtrando as ondas sonoras das gravações, ressaltando as diferenças de intensidade e jogos de panorâmicas, transformando em sons estéreos e remixando as faixas. O interessante é que Santos apresenta outra possibilidade da escuta da paisagem sonora, através de filtros que se baseiam na estrutura formal da voz, aproximando os sons da paisagem sonora com sons musicais, convidando-nos em seu trabalho, a perceber os múltiplos sons das paisagens sonoras urbanas: "O exercício de escutar a paisagem sonora a partir de uma ‘escuta nômade’ possibilita o desenvolvimento de uma escuta que compõe, que inventa: uma escuta que percorre diferentes caminhos, despropositadamente, desvelando a todo o momento escutas possíveis, que escapam àquelas predeterminadas pelo hábito", escreve Fátima.

Quanto à Belém, encontramos também dois trabalhos que auxiliaram quando queremos entender a paisagem sonora da nossa cidade. Na pesquisa de MORAES (2003) encontrei descrições de paisagens sonoras com detalhamento das fontes de ruído encontradas em Belém que são basicamente as mesmas até hoje:

Na área em estudo, assim como em qualquer centro urbano das grandes cidades, o tráfego rodado, gerado por veículos motorizados terrestres, exerce grande influência no agravamento da poluição sonora. Entretanto, o ruído gerado pela própria comunidade é, também,
significativo. O uso de alto-falantes, megafones e carros-som são constantes na área. Na tentativa de atrair clientes, acabam concorrendo com o ruído do tráfego de veículos e entre si. Existe uma rádio comunitária no local, que conta com vários alto-falantes, instalados nos postes públicos, usada como principal elemento de informação, propaganda e publicidade. Vale ressaltar que além das atividades comuns a comunidade local é grande geradora de ruído, o que desfavorece a comunicação oral em toda a zona, obrigando o aumento da intensidade vocal, gerando assim grau de incômodo bastante considerado, contribuindo, significativamente, para a poluição sonora. (p.1)


Mais especificamente quanto à paisagem sonora da cidade encontrei em ARRAES (2005) algumas passagens que descrevem alguns exemplos dos sons encontrados na cidade, ontem e hoje:

O memorial sonoro da cidade de Belém é muito rico e criativo. Algumas fontes sonoras somente aqui existiram ou existem até hoje. A cidade por estar dentro da floresta amazônica e cercada por rios, igarapés e espelhada numa baia, tem nas lendas e mistérios da floresta um forte componente sonoro. A proximidade da mata faz com que as pessoas tenham muita intimidade com diversos animais e seus sons. Mesmo na atualidade, onde a urbanização aponta para a globalização dos costumes e uso dos espaços, o povo guarda na relação com a natureza e seus atores uma relação única. (p. 36)

As festas de rua usam equipamentos de som de alta potência, popularmente chamados de “aparelhagem” que tocam músicas para diversão de muitas pessoas que freqüentam estes eventos. O repertório escolhido é de varias nacionalidades e feito para diversos tipos de dança popular. As músicas escolhidas têm a funcionalidade principal de acompanhar a dança dos casais que estão no ambiente. O volume de som é tão alto que alcança centenas de metros além do espaço autorizado para a festa. (Ibid. p. 43)

Quanto maior a abrangência, penso eu, dos estudos de paisagem sonora, mais abrangente será a capacidade do homem contemporâneo encontrar a paz.

sábado, 23 de janeiro de 2010

VER-O-PESO: ESPAÇO, LUGAR E COTIDIANO



"O espaço não é o meio (real ou lógico) onde se dispõem as coisas, mas o meio pelo qual a posição das coisas se torna possível." Merleau-Ponty

O Ver-O-Peso é um mercado às margens da baía do Guajará construído em 1625, seu nome faz jus às chamadas “Casas do ver-o-peso ” projetadas no Brasil, em 1614 com o objetivo de conferir o peso exato das mercadorias e cobrar os respectivos impostos para a coroa portuguesa. Em Belém, esse “espaço” inclui dois mercados: um de peixe e um de carne e uma feira a céu aberto considerada a maior da América Latina. Adistribui-se ao todo em 25 mil metros quadrados, incluindo um complexo arquitetônico e paisagístico formado construções históricas, como por exemplo a Ladeira do Castelo e seus casarões antigos, a praça do relógio, o forte do castelo, hoje forte do presépio, mercado de ferro, solar da beira além da riqueza humana, imaterial que é inestimável.

Precisamos antes, entender, mesmo que de forma superficial o que é o Complexo do Ver-O-Peso (denominação mais recente), ou simplesmente Ver-O-Peso, como é popularmente conhecido. Cabe então neste processo, destrinchar inicialmente o termo complexo. No dicionário Aurélio é possível encontrar algumas respostas: 1) Que abrange ou encerra muitos elementos ou partes; 2) Observável sob diferentes aspectos; 3) Confuso, complicado, intrincado.

Todas as significações encontradas no dicionário são extremamente relevantes quanto ao que representa e quanto ao que é o Complexo do Ver-O-Peso, o todo, o complexo arquitetônico que é intrincado como vimos, também observável sob diferentes aspectos, sobretudo por ser divido em partes, ou como chamo, “os lugares” do Ver-O-Peso. Surge então a necessidade de identificarmos como são estes lugares e como são os espaços, reconhecendo as diferenças e semelhanaças entre lugar e espaço. Existem autores que consideram lugar e espaço “inseparáveis” e outros, como coisas dinstintas. Merleau Ponty entendia lugar e espaço como coisas distintas, o que delimita um campo, determinado pela experiência e relação com o mundo; no sonho e na percepção. A perpesctiva então é determinada por uma “fenomenologia” do existir no mundo.

Também Michel de Certeau (2008), “aprimorando” as idéias de Merleau-Ponty, nos aponta tal diferença, afirmando que um lugar é como uma configuração instantânea de posição, implica uma indicação de estabilidade e o espaço é um lugar praticado sendo que incessantemente os “habitantes” estão a todo instante tranformando lugares em espaços e espaços em lugares, já que são “inseparáveis” como afirma Tuan (1983): “O espaço e o lugar são inseparáveis porque ambos se configuram, neste caso, como fenômenos humanos. Portanto, desempenham importante papel na conformação das paisagens”. É aí que faço um paralelo com meu tema, pois todos os eventos que acontecem no Ver-O-Peso, sejam eles antropológicos, imagéticos ou sonoros, só acontecem devido a quantidade de pessoas que por lá circulam.
Michel de Certeau diz que as paisagens surgem como espaços privilegiados onde o processo histórico se efetua enquanto devir humano no tempo. Nos termos Certeau (2008) seria um “lugar praticado” no qual os homens atuam cotidianamente. Isto é, entre espaço e lugar, Certeau coloca uma distinção, que delimitará um campo:

Um lugar é uma ordem (seja qual for) segundo a qual se distribuem elementos nas relações de coexistência. Aí se acha portanto excluída a possibilidade, pra duas coisas, de ocuparem o mesmo lugar. Aí impera a lei do “próprio: os elementos considerados se acham uns ao lado dos outros, cada um situado num lugar “próprio” e distinto que define. (CERTEAU, 2008: 201)

O espaço é o cruzamento de móveis. É de certo modo animado pelo conjunto dos movimentos que aí se desdobram. Espaço é o efeito produzido pelas operações que o orientam, o circunstanciam, o temporalizam e o levam a funcionar em unidade polivalente de programas conflituais ou de proximidades contratuais. (Ibid. p. 202)


Refletindo sobre essa distinção, elaboro algumas interrogações sobre o espaço para uma comparação/reflexão de acordo com as ideias tratadas até aqui com a realidade do Ver-O-Peso. Que relação os trabalhadores, freqüentadores e passantes do Ver-O-Peso têm com este lugar? A que vínculos sociais estão ligados? Que possibilidades podem experimentar na relação com o lugar?
Por trás do sentimento de ligação entre um povo e sua cidade, o povo e seu lugar, espaço onde o mundo social não só acontece, mas é determinado por ele, pois é nessa relação entre espaço e sociabilidade que torna-se possível pertencer, determinado pelo lugar, onde as coisas se tornam possíveis. SILVEIRA (2009) parece complementar as idéias até aqui discutidas e vai um pouco além revelando-nos que:

Os significados atribuídos aos lugares revelam vínculos simbólico-afetivos que podem estar relacionados com a ordem do sagrado (dados na relação entre o divino natural e o divino social), práticas econômicas ligadas a certos arranjos técnico-culturais (administrando e manejando coletivamente o ambiente), bem como às formas de sociabilidade, dentre as quais o lúdico e a contemplação refletiriam, simbolicamente, a possibilidade de experimentar esteticamente a relação com o lugar. (p. 77-78)
Daí para situar-nos sobre o cotidiano do Ver-O-Peso, a idéia de cotidiano conforme Certeau (2008) é fundamental para compreender meu campo e consequentemente, meu processo de criação:
"O cotidiano é aquilo que nos é dado cada dia (ou que nos cabe em partilha), nos pressiona dia após dia, nos oprime, pois existe uma opressão do presente. Todo dia, pela manhã, aquilo que assumimos ao despertar, é o peso da vida, a dificuldade de viver, ou de viver nesta ou noutra condição, com esta fadiga, com este desejo. O cotidiano é aquilo que nos prende intimamente, a partir do interior. É uma história a meio-caminho de nós mesmos, quase que retirada, às vezes velada. Não se deve esquecer este “mundo memória”, segundo a expressão de Péguy. É um mundo que amamos profundamente, memória olfativa, memória dos lugares da infância, memória do corpo, dos gestos da infância, dos prazeres. Talvez não seja inútil sublinhar a importância do domínio desta história “irracional”, ou desta “não-história, como diz ainda A. Dupront. O que interessa ao historiador do cotidiano é o Invisível...”

O estudo do cotidiano ainda é muito recente, a academia por anos desprezou a vida cotidiana, SOUZA (2000) cita autores de diferentes vertentes do cotidiano:

O campo da sociologia da vida cotidiana é recente e possui origens diferentes. Alguns autores o identificam como um espaço da pós-modernidade (Featherstone 1995), do pluralismo, do abandono às narrativas totalizantes. Para Tedesco (1999) há um revalorizar do interesse sociológico pela vida cotidiana mediado pelo senso comum, talvez como forma de respostas, de esperança no homem e não na história, frente às falsas promessas de redenção de liberdade e de igualdade nunca realizadas. (p.18)

Agnes Heller escreve que “a vida cotidiana não está ‘fora’ da história, mas no ‘centro’ do acontecer histórico: é a verdadeira ‘essência’ da substância social”. Para tornar esta idéia mais clara, Heller argumenta que “as grandes ações não cotidianas que são contadas nos livros de história partem da vida cotidiana e a ela retornam”. Toda grande façanha histórica concreta torna-se particular e histórica precisamente graças a seu posterior efeito na cotidianidade:

“As grandes ações não-cotidianas que são contadas nos livros de história partem da vida cotidiana e a ela retornam. Toda grande façanha histórica concreta torna-se particular e histórica concreta torna-se particular e histórica precisamente graças a seu efeito na cotidianidade. O que se assimila a cotidianidade de sua época assimila também, com isso, o passado da humanidade, embora tal assimilação possa não ser consciente, mas apenas em si” (apud, SOUZA 2000: 26)


Aqui vemos dois momentos de cotidiano no Ver-O-Peso:



Trabalhadores da “Pedra” e seu entorno sonoro
(Arquivo Pessoal)

Trabalhadores da feira do Açaí

Viva o Ver-O-Peso! Viva Belém do Pará! 394 anos de imagens e sonoridades!