quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Carta a um jovem poeta

Uma leitora do Blog muito querida, tão querida que vive comigo há dez anos. Enviou-me esta carta de Rilke para ser postada. A idéia é refletir comparando a prática poética e a prática docente. Boa Leitura, boa reflexão. Tereza, muito grato por tudo, penso que os leitores irão gostar...



Rilke, “Cartas a Um Jovem Poeta”, primeira carta, de 7 de Fevereiro de 1903)
“O senhor envia os seus versos às revistas literárias, compara-os com outros versos, e sente-se inquieto quando algumas redacções recusam os seus ensaios poéticos. Pois bem, já que me permite aconselhá-lo, devo exortá-lo a renunciar a tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente isso o que não deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar. Ninguém... Não há senão um caminho: procure entrar em si mesmo. Esquadrinhe o seu íntimo até descobrir o motivo que o impele a escrever. Procure saber se esse motivo mergulha as suas raízes até ao mais fundo da sua alma. E, procedendo à sua própria confissão, interrogue-se se morreria se lhe fosse vedado escrever? Diante de tudo isto, pergunte a si mesmo na hora mais calada da sua noite: "Devo eu escrever?” Escave e aprofunde dentro de si uma resposta. Se for afirmativa, se puder responder àquela pergunta tão séria com um firme e simples: "Sim, devo!"; então, erga o edifício da sua vida de acordo com esta necessidade. A sua vida, até na sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho desse impulso. Aproxime-se então da natureza, e tente dizer, quase como se fosse o primeiro homem, o que vê e sente, ama e perde. Não escreva, evite escrever, versos de amor. Nos seus primeiros passos, subtraia-se a formas e temas demasiado correntes, porque são os mais difíceis; já que é necessária uma grande dose de força e maturidade para poder contribuir com algo de si num domínio onde já existem uma infinidade de bons legados, alguns deles brilhantes. Por isso, livre-se dos motivos de índole geral. Recorra aos que em cada dia lhe oferece a sua vida. Descreva as suas tristezas e anseios, os seus pensamentos fugazes e a sua crença em algo de belo; e exponha-o por completo com uma sinceridade íntima e humilde. Utilize, para o exprimir, as coisas que o rodeiam. E as imagens que povoam os seus sonhos. E tudo quanto vive na sua memória. E se o seu quotidiano lhe parecer pobre e sem interesse, culpe-se a si mesmo, por não ser suficientemente poeta para conseguir descobrir e desvelar as suas riquezas. Porque, para um espírito criador, não há pobreza, nem tampouco lugar algum que lhe pareça pobre ou indiferente. E mesmo que você se encontrasse num cárcere, cujas paredes abafassem todo e qualquer eco do mundo exterior, ainda assim você teria consigo a sua infância, essa infância que encerra uma riqueza preciosa e digna de reis, um camarim onde estão refundidos os tesouros da memória. Volte a sua atenção para ela e procure fazer ressurgir as imensas sensações desse vasto passado. Assim, verá como a sua personalidade se afirma, como se expande a sua solidão, convertendo-se numa remansosa morada de penumbra enquanto ecoam num sussurro longínquo as vozes e os ruídos das outras pessoas. E, se deste mergulhar em si mesmo, deste submergir-se no seu próprio mundo, nascerem prontamente alguns versos, então, não sentirá qualquer necessidade de perguntar a alguém se eles são bons”.



Conselhos Sábios de Rainer Maria Rilke que atravessam os tempos.

6 comentários:

  1. Bem interessante esta carta, nos ajuda a refletir sobre nosso modo de fazer as coisas.
    Obrigada por me mandar um recadinho.
    Vou divulgar o seu blog.
    Abraços.

    ResponderExcluir
  2. Grato pela visita. A ideia é sempre de fortalecer nossos blogs. Grande abraço e até a próxima.

    ResponderExcluir
  3. Demais esse texto não? Quando o li há um tempo atrás fiquei impressionada. Argentino, obrigada por sua visita em meu blog e por seu comentário. Apareça sempre. Aproveito para te convidar a participar de uma blogagem coletiva no dia do professor. Passe lá nomeu blog e saiba mais sobre ela. Conto com você.
    Abraço,

    ResponderExcluir
  4. Beleza Roseli, conte comigo estarei lá. Estou querendo entender como funciona uma blogagem coletiva.

    ResponderExcluir
  5. A primeira carta foi escrita de 17 de fevereiro de 1903 e não dia 07 de fevereiro.

    ResponderExcluir
  6. Caro anônimo, nenhum de nós é dono de verdade alguma. Essas datas sempre nos enganam. Acho que você pode estar certo, mas também pode estar errado, acho que o que mais importa é ler a carta e entender. São apenas dez dias de diferença, afinal.

    ResponderExcluir