
Rilke, “Cartas a Um Jovem Poeta”, primeira carta, de 7 de Fevereiro de 1903)
“O senhor envia os seus versos às revistas literárias, compara-os com outros versos, e sente-se inquieto quando algumas redacções recusam os seus ensaios poéticos. Pois bem, já que me permite aconselhá-lo, devo exortá-lo a renunciar a tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente isso o que não deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar. Ninguém... Não há senão um caminho: procure entrar em si mesmo. Esquadrinhe o seu íntimo até descobrir o motivo que o impele a escrever. Procure saber se esse motivo mergulha as suas raízes até ao mais fundo da sua alma. E, procedendo à sua própria confissão, interrogue-se se morreria se lhe fosse vedado escrever? Diante de tudo isto, pergunte a si mesmo na hora mais calada da sua noite: "Devo eu escrever?” Escave e aprofunde dentro de si uma resposta. Se for afirmativa, se puder responder àquela pergunta tão séria com um firme e simples: "Sim, devo!"; então, erga o edifício da sua vida de acordo com esta necessidade. A sua vida, até na sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho desse impulso. Aproxime-se então da natureza, e tente dizer, quase como se fosse o primeiro homem, o que vê e sente, ama e perde. Não escreva, evite escrever, versos de amor. Nos seus primeiros passos, subtraia-se a formas e temas demasiado correntes, porque são os mais difíceis; já que é necessária uma grande dose de força e maturidade para poder contribuir com algo de si num domínio onde já existem uma infinidade de bons legados, alguns deles brilhantes. Por isso, livre-se dos motivos de índole geral. Recorra aos que em cada dia lhe oferece a sua vida. Descreva as suas tristezas e anseios, os seus pensamentos fugazes e a sua crença em algo de belo; e exponha-o por completo com uma sinceridade íntima e humilde. Utilize, para o exprimir, as coisas que o rodeiam. E as imagens que povoam os seus sonhos. E tudo quanto vive na sua memória. E se o seu quotidiano lhe parecer pobre e sem interesse, culpe-se a si mesmo, por não ser suficientemente poeta para conseguir descobrir e desvelar as suas riquezas. Porque, para um espírito criador, não há pobreza, nem tampouco lugar algum que lhe pareça pobre ou indiferente. E mesmo que você se encontrasse num cárcere, cujas paredes abafassem todo e qualquer eco do mundo exterior, ainda assim você teria consigo a sua infância, essa infância que encerra uma riqueza preciosa e digna de reis, um camarim onde estão refundidos os tesouros da memória. Volte a sua atenção para ela e procure fazer ressurgir as imensas sensações desse vasto passado. Assim, verá como a sua personalidade se afirma, como se expande a sua solidão, convertendo-se numa remansosa morada de penumbra enquanto ecoam num sussurro longínquo as vozes e os ruídos das outras pessoas. E, se deste mergulhar em si mesmo, deste submergir-se no seu próprio mundo, nascerem prontamente alguns versos, então, não sentirá qualquer necessidade de perguntar a alguém se eles são bons”.

Conselhos Sábios de Rainer Maria Rilke que atravessam os tempos.
Bem interessante esta carta, nos ajuda a refletir sobre nosso modo de fazer as coisas.
ResponderExcluirObrigada por me mandar um recadinho.
Vou divulgar o seu blog.
Abraços.
Grato pela visita. A ideia é sempre de fortalecer nossos blogs. Grande abraço e até a próxima.
ResponderExcluirDemais esse texto não? Quando o li há um tempo atrás fiquei impressionada. Argentino, obrigada por sua visita em meu blog e por seu comentário. Apareça sempre. Aproveito para te convidar a participar de uma blogagem coletiva no dia do professor. Passe lá nomeu blog e saiba mais sobre ela. Conto com você.
ResponderExcluirAbraço,
Beleza Roseli, conte comigo estarei lá. Estou querendo entender como funciona uma blogagem coletiva.
ResponderExcluirA primeira carta foi escrita de 17 de fevereiro de 1903 e não dia 07 de fevereiro.
ResponderExcluirCaro anônimo, nenhum de nós é dono de verdade alguma. Essas datas sempre nos enganam. Acho que você pode estar certo, mas também pode estar errado, acho que o que mais importa é ler a carta e entender. São apenas dez dias de diferença, afinal.
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